sexta-feira, 4 de março de 2011

o cinema dos olhos de vinícius

O Cinema é uma arte (digamos arte, mesmo a contragosto) essencial, nunca duvide disso. Ela existe à base de toda a realidade da imagem, imagem aqui considerada no seu sentido mais amplo. O Cinema são os olhos do primeiro homem em êxtase contínuo, em descoberta contínua de todas as imagens, da Imagem pura, que é a sua própria continuidade. Não sei se você me entende como eu quisera que você me entendesse. Pena é que não possa mais lhe dizer mais longamente, mais metodicamente, mais cientificamente, até chegar a um ponto de onde brotasse a luz. Paciência. Provisoriamente, dir-lhe-ei o seguinte: para mim o Cinema, como a Música ou a Poesia, é um "estado" mais que uma arte. A nossa sede de formas deu-lhe um nome e criou-lhe uma técnica própria. Mas realmente ele existe em tudo, em tudo o que é sucessão e ritmo de imagens. O pensamento é essencialmente cinemático, sobretudo quando não "visualiza". Eu desconfio do pensamento ou da emoção que "visualiza". Desconfio de Debussy, desconfio de Wagner, desconfio de tudo que excita mais do que "se abandona". Chaplin não visualiza, veja você bem. Nem Bach, nem Shakespeare, nem Rilke. É preciso não ir buscar a essência do Cinema na pantomima apenas.

Vinícius de Moraes - O Cinema de meus olhos

Um comentário:

  1. é silêncio. sempre ouvi dizer que cinema é a imagem do silêncio. de um silêncio em movimento pronto pra romper com as cores pra cair de lambuja na ordem dos sentidos. mas ele também rompe com os sentidos.

    o cinema para mim é uma sala com cheiro de escuro e lampejos de luzes.

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